domingo, 28 de dezembro de 2008

Em busca de mais lucidez

Na vida, a medida que passamos por momentos difíceis, começamos a valorizar cada vez mais os bons momentos, entendendo que essa caminhada é feita de altos e baixos, como muitos dizem.

A vida é difícil mesmo, porém é mais fácil a gente falar isso quando passa por um momento complicado. É bom entendermos que sem um momento difícil fica complicado entendermos melhor a nossa existência. Para vivermos em toda sua plenitude um momento considerado “feliz” é preciso que saibamos, em primeiro lugar, reconhecer os maus momentos. A percepção e a vivência de um não existe sem a aceitação do outro.

Momentos ruins também servem para refletir, buscar novas identidades, mexer em (in)certezas escondidas, enfim, para entendermos mais sobre nós mesmos, mudarmos quem sabe de rumo, de atitude e comportamento, deixando coisas para trás que não mais nos servem ou abrindo mão de algo que antes nos era imprescindível.

Com os momentos ruins passamos a entender melhor a nossa vida como um todo e talvez até cheguemos a algumas conclusões antes consideradas inalcançáveis, por isso, devemos entender que estas fases ditas “de baixa” também tem sua função dentro da nossa caminhada e que sem elas deixamos muitas vezes de crescer e sermos pessoas mais lúcidas.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Por que ?

Por que tudo é fragmentado ?
Por que não consigo ficar lendo ao menos mais de duas horas todos os dias ?
Por que não consigo me concentrar no que me aplico a fazer ?
Por que somente o imediato, o imagético, o recortado me fascina ?
Quero me libertar da ditadura do efêmero, quero poder trilhar nas profundezas dos pensamentos e sonhos dos múltiplos autores, queria poder ler todos os livros do mundo para saber se chegaria a alguma conclusão sobre o mundo, talvez não chegasse à conclusão nenhuma. Talvez entendesse que o mundo é o que é, segundo as escolhas do homem, sendo algo que tenha valor de acordo com os desejos de cada um. Para mim o que tem valor é a transgressão na arte, a tentativa de buscar a fronteira entre o tradicional e o rebelde. Para mim, no mundo falta isso: mais transgressão e menos conformismo.

Ah, tá, legal, mas o que é que cê vai fazer em relação a isto ?

Taí, nos deparamos com as nossas fraquezas e as nossas limitações.

Foi...Vai !!!

A mistura na educação é a possibilidade de beber uma vodka com guaraná
Sabe lá aonde a gente vai parar se continuarmos batendo esses tambores de ossanha
Eu queria parar em algum lugar, comer num rodízio de massas e depois lavar as mãos com sabonete líquido de alfazema
Sabe lá aonde a gente vai parar se continuarmos traçando o que não sabemos traçar
Sabe lá aonde a gente vai parar e a liberdade onde estará ? Se já estamos aprisionados pelo mercadomodelodeviver ?
Seja pelo mercado aquilo que Cristo foi por nós, tente salvá-lo. Eu coloco o mercado na cruz, eu coloco o mercado na cruz, eu coloco o mercado na cruz.
Ah ah ah ah ah ah ah ah, que gozo, o mercado está morrendo, está morrendo, vai mercado, vai, morra e nos dê um pouco a possibilidade de ver o povo apreciando a verdadeira arte, a arte de dizer chega, de esbravejar com as tulipas de chopp nas mãos, porra, eu quero uma arte mal comportada, quero que o politicamente correto se foda, quero que vá tudo para o seu devido inferno...Ah, porra, estou cansado de correr, correr, correr e não chegar a nenhum lugar, eu quero conhecer os grotões do mundo, que dizem ser o inferno mas me parece o portal do céu...Do céu de Milton Santos, de onde sairá a verdadeira marcha da modificação do mundo. Ahhhhhhh, eu quero paz, justiça e liberdade também. Liberdade de mim mesmo, liberdade da dona maloca, liberdade de espaço e tempo, dos curativos na minha barriga, quero cicatriza-los com sangue, quero amortecer a língua com sapos gigantes, quero sentir o sabor do refresco das doces manhãs, porra, vão mudar o português mas e o carioquês ? e o brasilês ? Porra, porra, porra, eu quero cruzar com um cachorro pra ver se sai um bicho novo porque nada de novo acontece nessa metrópole do mercado, eu quero mais do novo, mais do belo, quero mais do vivo, do estar vivo, do viver sem pré-estabelecidos conceitos, porra, eu quero viver, só isso, mas também quero a arte ao meu lado e quero que essa arte seja a arte de todos, diversa, dionisíaca e acessível. Feliz, se é que possa usar essa frase traçando um belo sorvete de manona, ano novo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Seres Humanos

Seres humanos, independente de credo, posturas e classe social, têm vesícula
Seres humanos desejam o tempo todo alguém do lado que os anime ou torne o ambiente feliz
Seres humanos prestam atenção na vida dos outros seres humanos e sentem prazer com isso
Seres humanos interferem na vida dos outros e sentem mais prazer ainda do que prestar atenção
Seres humanos são onipotentes diante do mundo, achando que a vida nunca lhes irá reivindicar algo
Seres humanos pensam no momento atual e em como tornar aquele momento menos doloroso e angustiante, sendo talvez uma das poucas saídas
Seres humanos querem sempre o melhor, ter uma casa, um carro, uma mulher, um homem
Seres humanos não pensam, apenas consomem
Seres humanos precisam entender que são muito pequenos diante da vastidão do universo, já dizia Niemayer, a vida dos seres humanos é um sopro

domingo, 14 de dezembro de 2008

O mundo é um grande supermercado

O PASSAPORTE DO HOMEM HOJE É O DINHEIRO
SEM DINHEIRO VOCÊ NÃO É ACEITO NA SOCIEDADE
SEM DINHEIRO VOCÊ NÃO É BEM VISTO
SEM DINHEIRO VOCÊ É REPRIMIDO
SEM DINHEIRO VOCÊ É INIMIGO DO ESTADO
POIS SEM DINHEIRO VOCÊ NÃO CONSOME
SEM DINHEIRO VOCÊ NÃO É INTERESSANTE PARA QUEM MANDA NA SOCIEDADE, O MERCADO

O HOMEM HOJE EM DIA EXISTE PARA O CONSUMO
NÃO HÁ HORIZONTE A CHEGAR, APENAS CONSUMIR O IMEDIATO
SATISFAZER OS DESEJOS ESTIMULADOS PELO PODER SIMBÓLICO

O MERCADO É IMPLACÁVEL, ELE ANULA O TEMPO, TRAZ A FANTASIA DO “AQUI AGORA”, DO “SEJA FELIZ” E SER FELIZ É CONSUMIR, FORA ISSO, NÃO EXISTE MAIS NADA, TUDO FICA VAZIO, O HOMEM PERDE O SENTIDO DE SER E É TOMADO POR ANGÚSTIA.

É PRECISO SE VOLTAR PARA AS COISAS SÍMPLES QUE RESTARAM, O MAR E O AR, MESMO QUE POLUÍDOS, OS GUETOS E RINCÕES, MESMO QUE ESQUECIDOS, A POBREZA E A MISÉRIA, MESMO QUE IGNORADOS.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Ilhas

A cada dia redescubro uma Ilha que há muito estava perdida nos confins do passado

Nessa Ilha reencontro o que há de melhor em mim

Transcendo o tempo e vivo um presente particularmente meu

Numa Ilha que quase deixei mas de onde um dia, fatalmente, irei partir...ou não...

Pois partindo, corro o risco de experimentar a absurda vontade de voltar...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Hora de Agir

Viva a vida e se permita escolher o que for melhor pra ti, independente do que o mundo pense ou diga ...

O que importa é a sua felicidade, seu estado cotidiano, seu momento emocional ...
Escolhas não possuem juízo de valor embutido, elas acontecem conforme as nossas convicções, nosso acreditar de que aquilo é o que nos cabe em determinado momento ...

As vezes passamos tanto tempo pensando, refletindo e esquecemos que no fim do caminho sempre existe um "agir" a espera de uma atitude nossa ...

E é esse agir, afinal de contas, que irá impulsionar a manivela que fará girar a roda de um novo mundo ... O mundo que você escolheu ...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Trilhos


Sabe o que é mais estranho depois da tempestade ?
É perceber como a natureza do homem, da alma, é capaz de se regenerar.
Vejo uma floresta desmatada ir, aos poucos, sendo naturalmente reflorestada.

A gênese acontece fora e dentro da gente ao longo da vida. Uma só não, várias, dezenas delas, e a partir disso seguimos nossos trilhos por novas trajetórias mas nunca deixamos de seguir, isso é o que importa ...

Aonde os novos trilhos irão nos levar ? Será que realmente temos o controle de tudo ? Acho que de quase tudo, tirando as fatalidades imprevisíveis e prementes. É preciso, ao mesmo tempo, estar atento ao que vem pela frente sem perder a capacidade de sonhar. O cotidiano pode ser poetizado a cada instante sem perdermos a nossa objetividade. São duas faces da mesma moeda.

A liberdade para sonhar é o oxigênio da alma ...

O mais importante de tudo é não deixar de seguir os trilhos ...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Carnaval só no ano que vem

Não saber o que escrever querendo escrever é pior do que escrever sem vontade e por obrigação.

Então vou deixar rolar uma música ... do filme "O Mistério do Samba" ...

Vou partir
nao sei si voltarei...
tu nao me queiras mal
hoje é carnaval
partirei para bem longe
nao prescisas te preocupar
so voltarei pra casa
quando o carnaval acabar, acabar

Vou partir nao sei si voltarei...
tu nao me queiras mal
hoje é carnaval
hoje é carnaval...

(Nelson Cavaquinho)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Osso e poeira

Osso e poeira...
Osso e poeira...
Não há como escapar
Osso e poeira...
Osso e poeira...
Consuma, consuma, consuma
Pois seu final será
Osso e poeira...
Osso e poeira...
Deseje todo o mal do mundo, pode odiar
Que o seu final será
Osso e poeira...
Osso e poeira...
Eu, você, minha avó, o cachorro
Osso e poeira...
Osso e poeira...
Pense em fazer algo
Ao menos útil para o mundo
Osso e poeira...
Osso e poeira...
Porque no final de tudo
Tudo será
Osso e poeira...
Osso e poeira...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Resistência...até quando ?

Tem dias que a gente se sente despedaçar por dentro, como se a alma estivesse entrando em decomposição. É uma dor tão grande e profunda que fica difícil saber quem realmente você é. É como se a gente se sentisse esvaziando por dentro, todo o nosso emocional indo pelo ralo, sendo sugado por alguma coisa que a gente não sabe exatamente o que é, talvez essa seja uma das maiores angústias, não saber o que provoca isso...

A sensação de que o pior vai acontecer, de que você está num carro desgovernado rumo a um precipício, é por aí...

Tantas são as formas do homem viver, as vezes fico me perguntando se realmente somos o que escolhemos ser e se podemos realmente fazer algo para mudar o que está aí...

Tem horas que o vazio é tão grande que parece que uma nuvem branca vai te tragar para o nada, o mundo desabando em cima da sua cabeça e você desaparecendo lentamente ou subitamente de uma vez...

As vezes parece que eu me decomponho por dentro e meu corpo não acompanha esse movimento, ou seja, ele não morre...

Por que, né ? Deveria ser mais fácil...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Meu pai

Como vai, tudo bem por aí ? E aí ? Muitas canções novas ? Saudade de ti, velho. Quanto tempo a gente não se vê, né ? Por aqui está tudo bem e não vou ficar fazendo cena, vou direto ao assunto. Você agora é avô. É, velho, vovô. Como o tempo passa rápido, né ? Quem ? Se chama Carolina. Eu que escolhi. Lindo nome, não ? Sabia que você iria gostar.

É, pai, a vida realmente, como você cantava em suas músicas, não é fácil mesmo não. Não é pra qualquer um. Que correria, hein, velho. Como o ser humano se supera em matéria de maldade. Fico as vezes pasmo com isso tudo, mas olha, quero te falar da Carol. Ela é linda, pai, como a vó. Tem o nosso sorriso e aquele olhar que por direitos autorais são dela. Ela está muito linda.

Pois é, eu agora também sou pai, cara. Quem diria, hein ? Teu filhote pequeno que você ninou, pegou nos braços, hoje é pai. Cara, vou te falar, é muito bom ser pai. Passei esse tempo todo pensando como seria. Poxa, agora entendo as palavras, letras e músicas que você compunha, principalmente aquela que fizeste pra mim quando nasci, lembra ? Claro que sim.

Quero que tu saibas que eu tô bem, por sinal, muito bem. Estou trabalhando no mesmo lugar onde estudei a vida inteira. Moro na Ilha do Governador, assim como nos últimos 27 anos. Aqui fiz muitas amizades e vivi grandes amores. Pois é, pai, estou agora numa fase de mudanças e você sabe, mudanças são sempre difíceis e muitas vezes dolorosas, mas nada como o tempo que não cura, mas nos ajuda a conviver com as perdas.

É velho, é isso aí, bom falar contigo. Saudades e não esqueça, mesmo distantes a gente sempre estará junto. Te amo, cara, hoje, amanhã e principalmente nesse ano de 2008 quando completei 33, a mesma idade que você tinha quando morreu. De qualquer forma, te amo, velho. Se feliz sempre !!!

Teu filho,

Fernando

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sangue e Gente

O coração bate forte
Bombeia sangue aos nossos extremos
Latejando e percorrendo veias distantes
Em uma profícua enxurrada de plasma

O pulsar do corpo me lembra o tempo
Tempo que dita passos e incita compassos nas cidades
Marcação incessante de um relógio
Coração, ritmo, corpo, movimento

Ditam o trânsito do mundo
De um mundo em transe
Que se transa intensamente

Buscando caminhos
Vivendo “non senses”
Calamidade tempo caos sangue gente

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Varrendo palavras...


São tantas as folhas que caem das árvores que as vezes não sei direito por onde devo começar a pisar
Talvez deva me concentrar em como pisar, forte na folha seca, ouvindo o estalar das palavras que caem das árvores...

Palavras são como folhas, a gente varre pra longe, pisa nelas, mas sempre retornam com o passar do tempo...
Como as folhas, elas preenchem espaços, algum espaço no mundo, um espaço dentro de mim...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Salve-nos, Mercado !!!

Leio as notícias dessa crise econômica nos jornais e penso : até quando vamos ficar venerando o "mercado" como se ele fosse um tótem imponente e poderoso a julgar e punir nós, pobres mortais ?

A atual crise das bolsas mostra que a ditadura do mercado na qual vivemos, aquela que seria a solução dos males do mundo, está provando de seu próprio veneno...O veneno da empáfia, da frieza e da soberba...

No entanto, com mercado em crise ou sem mercado em crise (como vimos nos últimos anos), as necessidades básicas da população carente continuarão sendo colocadas em segundo plano...É uma questão de prioridades...

Quando a crise abala o mundo financeiro, dos negócios, dos homens engravatados, os meios de comunidação dão uma relevância tremenda. Agora, divulgar as mazelas pelas quais passa grande parte da população brasileira como forma de combater as desigualdades sociais, isso a mídia não faz...

Viva o mercado !!! Nãe era ele que iria nos salvar ?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Equinócios


Hoje, às 12h22m, o sol toca o equador à 90º...
É o equinócio solar...
Hoje, e somente hoje, os dias e as noites terão exatamente a mesma duração em todo planeta...
Daqui pra frente teremos cada vez mais dias longos e noites curtas, até explodir o verão em toda sua magnitude...
Antigamente na Europa essa era a época de celebrar com vinho, música e dança a boa colheita...
A primavera é como a vida onde colhemos os grãos que brotam das nossas atitudes e vivências...
O sol risca o equador e o equinócio anuncía novos tempos e fartas colheitas...
Celebremos à transmutação do que virá...
E acima de tudo brindemos à vida, pois o que virá será aquilo que fizermos de nós mesmos...
Boas colheitas...







domingo, 21 de setembro de 2008

Investments

Agora, o Morgan Stanley poderá ser controlado pelo China Investment Corporation e outros, como o Abu Dhabi Investment Authority e o Government Investment Corporation participam do Citigroup e do UBS Investment...


Enquanto isso, a graúna (de Henfil) nos grita lá do sertão...






sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Eternidade

Tô apaixonado, totalmente embriagado de amor...

Se chama Carolina...um olhar que se abriu e me mostrou outras nuances da vida e da possibilidade de existir...

Antes parecia tudo limitado, sem um caminho, sem um sentido...Agora há eternidade na minha existência...

Vou com ela ao meu lado (como dizia Tom Jobim) “até o apagar da velha chama”...
Cada minuto ao lado dela vale milhões de anos. É como se a via-láctea se formasse e explodisse dezenas de vezes...
Já dizia Nietzsche, “cada momento da nossa vida deve ser congelado numa constante eternidade que sempre retorna”

Há apenas uma única vida e isto me basta...
Encaixo dentro dela o infinito...
Não abro mão da minha eternidade finita, aquela que me faz encontrar múltiplos caminhos, pessoas e lugares, tudo ao breve sabor do tempo...

Os pequenos momentos devem ser sempre saboreados e, consequentemente, toda a nossa vida, pois é nessa única existência que encontraremos a nossa eternidade...

Eu já encontrei a minha...
Carol...

E viva Dionísio !!!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Mil destinos


É bom andar pela cidade
sentindo no corpo a pancada forte de cada pisada no chão
Terra, barro, concreto, calçadas
Me sinto mais gente, ser da paisagem inserido no mundo
Uma vez alguém me disse : “pra conhecer o Brasil é preciso ir a pé” De carona, parando, sei lá, indo
Sentindo os lugares, não apenas passando

Nas minhas caminhadas, uma nova cidade se abre
Coberta de cores, luzes e sons
Antes ocultos de dentro do carro
Kombis caóticas, lojas acesas e o passo apressado das gentes querendo chegar...

Essa cidade nesse ângulo tem ritmo
É coração que compassa forte de dia pra descansar à noite
Nas calçadas... tudo continua a mesma coisa
Crianças, pedintes, idosos, camelôs
Vivem a cidade na veia

Nas minhas caminhadas braços e pernas fluem pelo espaço
Me sinto mais vivo pra novos destinos, pra outras distâncias

Assim me vou, devorando e devorado pela cidade
Passam carros como flechas de um tempo que não vivo mais
Agora vivo o meu tempo
Pela frente, mil destinos
As vezes é bom andar
Sem saber pra onde vai

domingo, 7 de setembro de 2008

Demônios que há em mim


ESCREVO PARA EXORCIZAR DEMÔNIOS
VIVEM EM MIM E SÃO MEU CAOS
TRAVO UMA GUERRA CONTRA ELES

DAQUI DE DENTRO DA MINHA CABEÇA
QUERO CERCÁ-LOS, PRENDÊ-LOS
OLHAR EM SEUS OLHOS ENFURECIDOS
SENTIR SEU URRO ESTRIDENTE E APAVORANTE
ENTENDER PORQUE ESTÃO AQUI
MEUS DEMÔNIOS QUE EU DEIXEI ENTRAR


EM ALGUM MOMENTO ABRIR AS JANELAS
CONVERSAR COM ELES
SABER UM POUCO MAIS DE MIM


SENTIR-ME HUMANO DIANTE DE MINHAS FRAQUEZAS
DAS COISAS QUE DEIXEI PASSAR DESPERCEBIDAS
DOS MALES QUE PUDE TER CAUSADO SEM SABER




MEUS DEMÔNIOS QUE HÁ EM MIM
SÃO O CAOS
MAS TAMBÉM SÃO A ORDEM
ELES VÃO, MAS SEMPRE VOLTAM
MEUS DEMÔNIOS QUE HÁ EM MIM

sábado, 6 de setembro de 2008

A maldição do sono

MALDITO SONO QUE SE VAI SEIS DA MANHÃ
NÃO SE EXPLICA, QUANDO MENOS SE ESPERA, VAI !
É CEDO, MUITO CEDO
É SÁBADO


DESPERTADOR MALDITO QUE TOCA DENTRO DE MIM
MINHA ALMA ATORMENTADA NÃO DESCANSA
JÁ SEI
QUER ACORDAR MEU CORPO PRA PURGAR MINHAS ANGÚSTIAS
ELAS SÓ EXISTEM QUANDO ESTAMOS DESPERTOS


NESSES DIAS
VIVO A INVERSÃO DA VIDA
SINTO NA ALMA A ANTÍTESE DAS BELEZAS DO MUNDO
VIVO O LADO SOMBRIO E MÓRBIDO DA EXISTÊNCIA
PIOR DO QUE MORRER UM DIA
É VIVER UM DIA MORTO DE SONO

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Palavras e "a gente"

As palavras são símbolos de expressividade que nos conectam com o "fora de si", ou seja, com o mundo exterior à gente.
O conjunto de palavras reunidas e usadas com um objetivo específico que seja realmente necessário e, se possível transgressor, possui uma força descomunal. Força para romper barreiras, códigos morais e tabus impostos pelos "donos" da sociedade : grandes empresários, políticos e magnatas donos dos meios de comunicação. Eles não dominam a sociedade, dominam gente.

A palavra é uma unidade, singela, muitas vezes curta, mas dotada de sentidos que quando bem encaixados, derrubam exércitos, desconstróem ganâncias, subvertem a ideologia dominante, resgatam gente.

Talvez, em um mundo onde são poucas as chances de não sermos controlados pelo Estado, como realmente somos, o uso da palavra possa a ser uma das últimas esperanças, funcionando como um dos mais recônditos refúgios da alma, do ser, onde podemos nos expressar como realmente somos, para quem quisermos e sobre o que desejarmos.

Quero dizer que a palavra não é apenas um instrumento de expressão, mas, com todas as suas possibilidades de significados, a palavra é um meio de libertação, seja ela escrita, dita, virtualizada ou sinalizada, não importa, é através das palavras que podemos ser um pouco mais nós mesmos, libertando-se da solidão e dos demônios que nos cercam.

Todo o dia entram milhares de palavras por meio de propaganda, conversas e leituras. Elas precisam retornar, precisam voltar, ser expurgadas, sair, enfim. Cabe a você dar a elas o destino que lhe seja mais conveniente.

Que palavras você deseja pra você e o que você deseja das palavras ?

domingo, 24 de agosto de 2008

Vá pra dentro de si !!!

As vezes acho que sou um bicho irracional que não está entendendo nada do que está acontecendo lá fora, tamanho o descompasso entre eu e o mundo.

Gosto da natureza, o vento, o céu azul e o cheiro do mar tomando o controle do espaço. Se há um lugar para se ter esperança no ser humano este é a natureza.

A arte é o fim de tudo, o supremo, a verdadeira religião, capaz de arrancar tudo por dentro, devastar sentimentos e explodir emoções, muitas delas escondidas nos cantos da nossa alma. Só a arte pode entrar lá pra cavar, com lucidez, as profundezas do ser.

Sinto que tudo o que eu queria era um nada, que na verdade não sei nada, que não tenho certezas e acabo sendo um móbile do mundo, prá lá e pra cá segundo as normas da sociedade.

Cansado de ser jogado para o escanteio de mim mesmo, é preciso começar a ser verdadeiramente quem se é, sem amarras ou travas. Deixar aflorar tudo o que vier do peito, entregar a pele ao possível corte da navalha ou ao toque macio do algodão.

No divã da vida, na hora em que nos encontramos conosco mesmo é que entendemos quem realmente somos, olhando nas entranhas das nossas mazelas, da nossa tênue fragilidade e nossa potência de vida, nossa vontade de viver. É, porque há uma potência, sim. Uma vontade que faz perpetuar cada segundo, tornando todos os nossos momentos eternizados. Eles retornam.
Viver hoje se tornou empobrecidamente sinônimo de prazer. Prazer pelo prazer. É pouco. É necessário mais lucidez.

O dia em que o homem se voltar pra dentro de si e se encarar de frente vai perceber que isso, por mais doloroso que seja, é uma maneira de sobreviver de forma mais verdadeira e honesta consigo mesmo.

As mazelas do mundo nos arrebatam a cada segundo para longe das verdadeiras questões.
Onde isso tudo irá parar ?

Pra frente, agora !!! Já !!!

Cada palavra tem a força da lança de São Jorge. Espeta a alma pra ver se sai algo. Joga fora o lixo que está acumulado. Bota pra fora sua liberdade contida. Libertade que nos faz respirar e ao mesmo tempo nos angustia, como disse Sartre. Liberdade ainda que tardia como diz a bandeira. Joga fora, pro mundo, tua vida cheia de medos, dá um impulso na tua vontade, pesca seus desejos lá no fundo e transborda isso através de palavras e atos. Muitos não serão de acordo com os pensamentos. O homem não é uma máquina programada para executar tarefas. Somos seres instáveis, precisamos vez em quando desligar, caminhar, ir para outros lugares, pensar em coisas não necessariamente objetivas como pagar a conta de telefone. Faz bem exercer a liberdade a partir de dentro de si mesmo e se projetar para o mundo com uma atitude reflexiva, procurando compreender o que é o espaço, o tempo, suas relações e seis recortes. No final de tudo seremos a mesma coisa, pó. Iremos pra não sei onde, talvez não iremos pra lugar nenhum. Mas, olha, sinceramente, isso pouco importa se você está apontando para dentro, removendo o excesso e jogando fora. Liberdade começa aí, limpando o espaço e deixando-se fluir no tempo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Certezas

Certezas, não as tenho e não gosto de contar com elas. São pássaros que voam das nossas mãos, nos deixam atônitos de tanto espanto. O Katrina devastou Nova Orleans, destruiu tudo, derrubou postes e sonhos. A água chegou na altura do nariz, prestes a afogar mais um que não esperava, mais um que se apegava às certezas.
Algumas certezas são mentiras que contamos para nós mesmos afim de acalmar nossa alma, tão atormentada pela insegurança, insegurança de nos encontrarmoas com a perda do emprego ou com uma bala perdida.
Nos enganamos e sentimos prazer com isso.
Talvez uma das poucas certezas que possam existir é saber que após a devastação de Nova Orleans, o ser humano começou a reconstruir tudo que foi perdido. Mas estariam apenas montando o frágil quebra-cabeças de novo ? Nova Orleans, vida...No fim, pode ser tudo a mesma coisa.

domingo, 17 de agosto de 2008

Na veia da alma

http://br.youtube.com/watch?v=XEonGSr6obc
Fui assistir, finalmente, Nome Próprio. Caramba, mais um filme daqueles de te arrebatar da cadeira, só que não para o mundo dos sonhos e das possibilidades, mas para dentro de nós mesmos.

Camila, personagem muito, muito, mas muito bem feita por Leandra Leal é uma pessoa em constante inquietude, como a maioria de nós. Só que tem uma diferença, ela dá a cara ao mundo pra ele bater, não fica se escondendo atrás de medos, não recua diante dos riscos e experimenta o mundo sem amarras, como as caravelas que cruzavam o atlântico no século XVI, indo para um lugar desejado porém sem saber direito para onde, o que e quem encontrar.

A personagem é como nós, está estampado, na cara, ela nos mostra como somos, seres que a todo tempo tem a possibilidade de descobrir, de se descobrir mais, de invadir o território das dúvidas, de se confrontar com as angústias, coisa que poucos fazem, preferindo caminhos com respostas mais fáceis. As palavras saem como um vômito dos dedos da personagem para o computador. Ela escreve o livro tirado de sua alma e como todo escritor, dizem, sofre.

Saí do cinema e as palavras vieram atrás de mim, me perseguindo. O quanto de poder elas possuem. Imagine então um texto repleto delas, ainda mais se vier de dentro como um vulcão, sem amarras, sem receios. A palavra tem a força de expressar um pouco de nós e a resistência de permanecer através do tempo. A palavra é a identidade do ser.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Uma droga de uma caixa de plástico

Depois da morte do meu tio, quando assistí a exumação de um outro ente querido e vi que os ossos de meus familiares terminam dentro uma mísera caixa de plástico, repensei a vida. Parei de ficar me preocupando com pequenas coisas e estou começando a focar em pensamentos mais objetivos. A náusea parece que fica um pouco sem sentido de existir. Continua existindo, porém sem solidez. Vamos todos para lá, para a caixa de plástico, portanto, penso que devemos viver nosso dia-a-dia com mais esperança, menos preocupação com coisas banais, a não ser que seja para desbanalizar o banal.

O fato dos bichos devorarem nosso corpo não justifica que tenhamos que abrir mão de tudo, mas podemos começar a fazer as coisas, a dar nossos passos, de forma menos insegura. Por que ficar se preocupando se os outros vão se chatear com você ? Por que ficar pensando se tal coisa não vai dar certo ? Pelo menos devemos tentar. Tentar transpassar as barreiras das nossas inseguranças. No final seremos osso, poeira e plástico e ninguém mais se lembrará da gente.

Estamos indo, junto a nossa doentia sociedade, em franco rumo ao nada. Se você consegue se desvencilhar da bala perdida pode vir um tumor e te esfacelar por dentro. Já era você. Por isso devemos ser mais objetivos, pé no chão, e quando aquela angústia aparecer pense na caixa de plástico com os ossos, pois ali não tem jeito. Sendo seguro ou inseguro, homem ou mulher, rico ou pobre, vamos todos terminar numa droga de uma caixa de plástico.

sábado, 19 de julho de 2008

Só toca João Gilberto no meu mp3 player

Sutil, delicado, suave, ao mesmo tempo poético, rústico em sua batida de violão, brasileiro, caramba, poético, não é apenas isso, é muito, é altamente poético, extremamente poético, intimista, vai na veia da alma a música de João Gilberto, arrebata tudo o que há de angustiante no ser, retira da alma a dor e o peso da existência.

Reformula o cosmos e ajusta o mundo, arruma a desordem da mente, dá esperança. Fala do amor de forma particular, bela e profunda.

Agora, depois de 33 anos, parei para ouvir João Gilberto, que já havia passado por mim nos anos 90, quando conheci a bossa nova nas aulas de violão aqui na Ilha, mas desfrutar e mergulhar neste universo mesmo, só agora. O bom é que ainda tenho bastante tempo para desfrutar. Nada está perdido.
A música de João Gilberto te carrega para outra dimensão, faz o mundo se abrir e as paisagens da minha infância passam a ter um sentido a mais. Não é Ipanema, mas isso não tem a menor importância. Essa música cabe em qualquer lugar, inclusive no subúrbio, afinal de contas, ela é samba também, samba com arranjos de jazz, uma batida suave e uma voz intimista que transvasa a alma, fazendo sair tudo que há de ruim na mente humana, as fraquezas, a desesperança, os rancores, todos somem imediatamente no compasso da batida do violão.
Esta música está pra lá de muito além do que seja algo que se possa fechar no tempo e no espaço. Está aí no mundo eternizando momentos, cada batida, cada divisão, cada acorde se perpetuam no tempo, permanecendo no sempre e na eternidade.
Viva João Gilberto.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Sangue, sangue, sangue...

Um absurdo total, um cataclismo sem fim o problema da violência no Rio de Janeiro. Ontem dois PMs foram assassinados (fuzilados) em meio à guerra urbana que vivemos. Logo na Zona Sul, na Lagoa, bairro nobre. É, não há lugar para acontecer massacres. O sangue não derrama somente em Belford Roxo, Turiaçu e recantos da Baixada. A bandidagem quer armas e elas estão por aí, de graça, é só pegar e matar, nas mãos dos despreparados policiais militares.

O que mais me chamou atenção foi a declaração do nosso querido governador Sergio Cabral Filho e sua política do fuzilamento. Ele estimula cada vez mais o combate, mas, por outro lado, não oferece condições para a Polícia Militar trabalhar de forma digna, com tecnologia, estratégia e, principalmente, preparação. É só ir as ruas que qualquer um presencia policiais trabalhando em regime blasé. Estão ali trabalhando, porém passam uma imagem de insegurança, tanto para eles próprios, que podem não voltar pra casa no final do dia, quanto para a população, presa fácil nas mãos dos corruptos que usam sua autoridade para achacar civis com o famoso “molhar a mão do guarda”.

Porém, esse caminho pelo qual ruma a política de segurança no nosso estado demonstra que, na verdade, ao fazer declarações visando o combate pelo combate como forma de resolver o problema do tráfico de drogas, o governo do estado demonstra que chegou ao estágio do “não sei mais o que fazer, esta é a única solução que posso oferecer”, visto que estratégia de combate às mazelas sociais, à corrupção dos políticos envolvidos com o tráfico, vereadores e deputados controlando milícias, enfim, tentar limpar a sujeira pela base, isto não é feito. Não que fosse a solução, longe de mim, mas creio que seria um começo.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Dor.

O Fluminense nunca se importou, aliás, nós, torcedores, nunca ligamos muito para o fato do time não ter conquistado uma Libertadores. Acostumamo-nos, e assim foi desde pequeno, a torcer nacionalmente apenas. Nos contentamos com cariocas, brasileiros e copas do Brasil. Flamengo e Vasco, clubes rivais, já haviam conquistado o título mais importante da América. Nós não, mas não sofríamos por isso. Íamos aos jogos como se o Fluminense fosse o melhor de todos, independente de não termos títulos tão importantes como os rivais.

Mas, chegou a hora. A hora em que o Fluminense disputou a Libertadores, foi passando jogo a jogo, fase a fase, minuto a minuto, nos emocionando, nos deixando orgulhosos, nos motivando e nos fazendo, com a máxima razão, acreditar que este ano seria o ano de uma conquista inédita. A tão cobiçada Libertadores, título desejado por mais de mil clubes em todo continente americano.

Era o momento da redenção. O momento em que íamos enterrar de uma vez por todas todos os fantasmas de uma passado sofrido e recente. Humilhações que mancharam a nossa história foram afogadas por uma ascenção incrível. Campeão carioca em 2005, chegando todo ano às semi-finais da Copa do Brasil e por fim conquistando-a em 2007, ficando entre os primeiros no tão difícil campeonato brasileiro. Pois é, o Fluminense nos fez acreditar novamente que o pior já havia passado, que a era das derrotas tinha acabado, que o estigma de time que faz gol e recua havia por fim terminado, que o fantasma dos anos em jejum de títulos havia finalmente sido extinto.

Ontem, no Maracanã, eu vi o Fluminense, o mesmo Fluminense que vi jogar enquanto crescia. Um time que tinha tudo, tudo para vencer e se sagrar campeão, recuar quando deveria partir para cima em busca de mais um gol, apenas um gol, que nos daria o inédito título. Que nos tiraria todas os traumas, todas as amarguras que vivo desde que me entendo como tricolor. Quando entrei no Maracanã no dia 02/07/2008 esperava ver um grande triunfo que encheria de brilho uma história tão grandiosa. Iríamos, faríamos, seríamos...mas...a dura realidade voltou. E voltou voraz, como num corte seco e profundo na garganta. Acordei de uma noite que não dormi. Uma noite que começou com gritos, alegria, fé, união e terminou no último pênalti batido. Acabou. A triste caminhada da arquibancada até o carro foi penosa. Parecia que estava numa espécie de limbo pós-morte. A multidão que caminhava curvada pelo Maracanã parecia um cortejo fúnebre. Uns nem conseguiram sair da arquibancada. Lágrimas nos olhos, olhavam para o nada tentando entender o inexplicável. Crianças choravam e homens desesperavam. Na dura caminhada ao redor do estádio parecia que estava andando em direção ao nada. A sensação era de ter sido engolido por um leão. Minha alma se desfazia sendo digerida pelo incompreensível.

A dor, a tristeza, a decepção são pequenas diante do fato de ter que enfrentar, no dia seguinte, a nossa dura realidade ao constatar que voltamos a nossa terrível vidinha.

domingo, 22 de junho de 2008

Um domingo com Pessoa

Eu hoje devorei um livro. É, um livro do Fernando Pessoa. Que livro. Tão pequeno, de bolso, por fora, mas tão forte e pulsante e gigante por dentro. Daqueles em que a a alma vai ao delírio. Parece que você entra em um transe. As palavras, a força do significado, o poder que a poesia tem de te levar pra longe de tudo que é podre, mesmo que esteja falando da podridão do mundo.

Li em duas partes. Na primeira deitado no sofá, desliguei tudo. Nem a tv resistiu. Na segunda abri um belo vinho e as palavras parecem que saíam das páginas e começavam a vagar pela sala, em suspensão. Não apenas as palavras, mas eu e a sala e o cachorro e os móveis.

Deslocado para outro mundo, arrebatado para o não sei onde eu fui. Que poderio tem essas palavras, que força tem a poesia deste português. Tiveram uns poemas que eu li duas, três vezes e quando me dei conta o livro estava lido, acabado.

A sensação foi de um banquete, com Baco, com o cachorro e a sala em suspensão ouvindo a voz de Pessoa. Pra tudo começar a girar era um pulo. Não sei como não rodou.

Eis a pomba-gira da literatura. Aqueles poemas que te arrebanham para outra dimensão.

No final ficou lá o livro, jogado sobre o braço do sofá, como uma mulher que acabara de ser possuída se deleitando dos prazeres prolongados do corpo e da alma. Estava lido e completamente exaurido por mim. Uma experiência transcendental. Sufoco, sufoco, sufoco que não quer mais sair. Vá até a poesia. Areja a alma.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O Tempo Dali

Dali, ontem foi meu aniversário. É, mais um. Tá passando. O que está passando ? A vida. Mas o que é isso ? Não sei, estou vivendo e ainda não parei pra pensar. Caramba, tu tá maluco, cara ? A vida é isso aí, oras...é a vida. Ah, para com isso. A vida é algo que é. Como assim algo que é ? Não entendi. Algo que é, algo que é, cara. Peraí, mas algo que é como, me explica. Não sei, apenas é. Mas espera aí, e o presente, o passado e o futuro, não contam ? Contam, sim, mas sei lá. Sei lá o que, cara ? Ah, sei lá, é difícil. Poxa, mas o que é difícil ? Difícil pensar nisso. Poxa, tô vendo que tu tá estranho. Como assim estranho ? Estranho, poxa, estranho. Não vejo você dar a sua opinião. Mas porque eu tenho que ter uma opinião ? Não sei, foi você quem começou a falar de aniversário e vida. Ah, é, comecei e aí ? Tô só pensando. Pensando no que ? Não sei, só estou pensando. Hum, acho que esse papo não vai chegar a lugar algum. É, eu também acho. Assim a gente vai ficar aqui horas, o tempo todo falando do que queria falar sem conseguir ou não falando na verdade de nada. Bem, vamos tomar mais uma ? Vamos. Juntos : Garçom !!!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O sangue que pinga da tela cai na nossa incapacidade de agir





Acabei de assistir um filme...no Canal Brasil. Um filme que estava afim de ver há muito tempo. Já tinha começado a assistir uma vez, já tinha lido sobre ele mas nunca tinha tido a oportunidade de parar com calma pra ver.

O Bandido da Luz Vermelha. Esse filme me vez lembrar automaticamente de várias coisas. Olha, ele é de 1968. Putz, caramba !!! Como é que um filme do final dos anos 60 pode ser tão atual ? Ou será que é o tempo que não caminhou ?

Me lembrei das várias ditaduras vividas hoje em dia, principalmente a do “politicamente correto”, que detesto. O filme é o inverso disso. Ele agride, ele transgride na imagem, nos recortes, no ritmo, nos diálogos. Ele é sarcástico, questionador...

Quando eu vejo algo assim, imerso em que estou nessa pasmaceira da velocidade, do colorido e das imagens bonitinhas, principalmente na TV, fico estarrecido de euforia, de encanto. Poxa, é o inverso quase que todo o inverso do que a gente vê por aí. A televisão e as propagandas que transformam o sanduíche pequeno em comida colorida, vistosa e suculenta.

Mas o politicamente correto...caramba, como é bom ver algo politicamente incorreto na TV. É uma aberração tão grande que até ouvi o barulho de uma onda vindo em direção a minha casa. Parecia que o mar da Praia do Chiclete tinha se transformado em tsunami.

Vivemos um ditadura hoje, assim como no período em que se passa o filme, só que hoje é a ditadura do faça tudo bonitinho, certinho, ande arrumadinho, com o cabelo limpinho e seja bonzinho. Até o bossal dos mais bossais percebe que se propaga uma imagem, um modelo de comportamento mas na verdade o que acontece nos círculos do poder, no submundo da hipocrisia, é justamente o contrário. É sujo, é tosco, é podre. E assim é o Bandido da Luz Vermelha. O herói de uma sociedade sem cura, sem destino, onde o sangue que jorra das suas vítimas soa como um clamor de misericórdia. Hei, alguém !!! Olhai por nós !!! A gota do sangue de suas vítimas cai em cima da nossa incapacidade de agir, atônitos, neuróticos e paralisados pelas luzes que estamos.

Esse filme deveria passar em cada praça, cada esquina, cada rua do Brasil. Esse filme é pra gente se ver. Somos carne e sangue. Somos produto de uma neurose metropolitana pós-alguma coisa recortada e desprovida de profundidade e amor. O mundo está assim e já estava assim há 30 anos atrás. Então, quando eu nasci já havia tudo isso e o que a gente tem hoje é aquele tudo isso com revestimento de tecnologia, informação e sofisticação.

É isso, o amor. Encontramos no não-amor desse filme a esperança da redenção dos nossos pecados.

Saravá.

domingo, 25 de maio de 2008

Bye-bye, Brasil. Oi, tamancada...




Bye-bye, Brasil.




Vi este filme há um tempo atrás numa dessas noites em que Carol dormiu mais cedo e foi véspera de folga. Dias raros mas mais raro ainda foi encontrar algo interessante para se ver na televisão. A mesmice de sempre, a chatice do cotidiano, a roda-viva da mesmice.




Mas vi Bye-bye, Brasil, do Cacá Diegues. Eta filme que bateu com as expectativas, sô.




Eu lia sobre ele nos anexos de um livro de geografia que usei em sala de aula. Ele estava indicado para passar para os alunos no final do capítulo sobre modernização brasileira. Realmente, não estava lá à toa.




Os personagens se perdem no emaranhado do tempo que passa rápido e dos espaços que mudam constantemente, com o rítmo do filme, que na verdade é o ritmo do Brasil (pós)moderno. Fragmentado e com poucas esperanças de melhorias sociais.




É um adeus esse filme. Um adeus às esperanças (renovadas antes do primeiro mandato de Lula para logo depois serem fossilizadas). Um adeus ao Brasil que se foi e não será nunca mais o que se sonhava ser.




Tenho limitações pois anos de televisão emburrecida me deixou burru, muito burro demais.




O tempo agora corre rápido e as folhas das árvores ficam a nos olhar, perguntando umas às outras > Cadê o meu canivete que não vem mais...Agora é moto-serra. Nem dá tempo dela respirar.




O circo pegou fogo. Acuda. Acuda. As maquilagens de Bety Faria não são mais as mesmas. Agora é tudo de metal. Nada contra o metal. Adoro. Mas que seja metal tupiafrotransnacional.




Cadeia, cadeia, cadeia. Estamos presos no quarto da ilusão. No corra pra comprar a porra do móvel da sala de jantar.




Celulares são como mãos que falam.




terça-feira, 15 de abril de 2008

Impressões do cinema europeu




Semana passada lí uma crítica a respeito do cinema francês. Não sou especialista em cinema mas adoro como os filmes europeus, de uma maneira geral, são feitos. Possuem todo um rítmo próprio, um formato independente. É realmente profundo e existencial, além possuírem um charme cativante.

Para uma pessoa que cresceu no meio da cultura de massa, do pop e do cinema comercial americano, é como se nunca tivesse ido ao cinema e ficasse deslumbrado com as maravilhas da sétima arte. Me lembro quando fui pela primeira vez assistir O Retorno de Jedi e De Volta para o Futuro. O impacto foi o mesmo, apesar da diferença no tempo que se vai para mais de duas décadas. Os filmes europeus são realmente impactantes em sua forma e conteúdo.

Não é de agora que tenho contato com o cinema europeu. Já há uma década que assisto na tv fechada filmes do velho continente. Antes os canais que veiculavam eram poucos. Hoje o número aumentou. Não tanto a ponto de empatar com os canais de filmes americanos comerciais, mas em relação ao final de década passada melhorou muito. Um dos destaques é o canal Eurochannel, especializado em programação européia.

Sinto falta dos filmes italianos. São tão cativantes e comoventes, inclusive as comédias parodiando o jeito brigão de suas famílias. O cinema francês já possui um tom mais existencial, profundo, bem de acordo com o que dizem ser os franceses. Há um aspecto sério nos semblantes dos personagens, dizendo sempre algo mais dos que as falas. Olhares profundamente existenciais, tristes e pensativos.

Já os alemães são mais fechados ainda. Sérios também, porém altivos em suas posturas, diferenciam-se do estilo francês mais voltado para o frágil-depressivo. Os filmes germânicos mostram pessoas mais frias, próximas do modo nórdico de ser.

No entanto, os filmes franceses e alemães acabam sendo formas de se observar outras culturas e entendermos, através do sentido de alteridade, o quanto somos dependentes e influenciados pela cultura americana. Assistimos um filme pipoca do circuito comercial e não vemos nada de anormal pois já estamos acostumados.

O bom da vida é esse. Dar-se a possibilidade da mudança, de experimentar coisas novas a fim de que nossa visão de mundo se amplifique. O cinema europeu é uma boa forma de descobrir novos caminhos e possibiidades de entendimento.