domingo, 24 de agosto de 2008

Vá pra dentro de si !!!

As vezes acho que sou um bicho irracional que não está entendendo nada do que está acontecendo lá fora, tamanho o descompasso entre eu e o mundo.

Gosto da natureza, o vento, o céu azul e o cheiro do mar tomando o controle do espaço. Se há um lugar para se ter esperança no ser humano este é a natureza.

A arte é o fim de tudo, o supremo, a verdadeira religião, capaz de arrancar tudo por dentro, devastar sentimentos e explodir emoções, muitas delas escondidas nos cantos da nossa alma. Só a arte pode entrar lá pra cavar, com lucidez, as profundezas do ser.

Sinto que tudo o que eu queria era um nada, que na verdade não sei nada, que não tenho certezas e acabo sendo um móbile do mundo, prá lá e pra cá segundo as normas da sociedade.

Cansado de ser jogado para o escanteio de mim mesmo, é preciso começar a ser verdadeiramente quem se é, sem amarras ou travas. Deixar aflorar tudo o que vier do peito, entregar a pele ao possível corte da navalha ou ao toque macio do algodão.

No divã da vida, na hora em que nos encontramos conosco mesmo é que entendemos quem realmente somos, olhando nas entranhas das nossas mazelas, da nossa tênue fragilidade e nossa potência de vida, nossa vontade de viver. É, porque há uma potência, sim. Uma vontade que faz perpetuar cada segundo, tornando todos os nossos momentos eternizados. Eles retornam.
Viver hoje se tornou empobrecidamente sinônimo de prazer. Prazer pelo prazer. É pouco. É necessário mais lucidez.

O dia em que o homem se voltar pra dentro de si e se encarar de frente vai perceber que isso, por mais doloroso que seja, é uma maneira de sobreviver de forma mais verdadeira e honesta consigo mesmo.

As mazelas do mundo nos arrebatam a cada segundo para longe das verdadeiras questões.
Onde isso tudo irá parar ?

Pra frente, agora !!! Já !!!

Cada palavra tem a força da lança de São Jorge. Espeta a alma pra ver se sai algo. Joga fora o lixo que está acumulado. Bota pra fora sua liberdade contida. Libertade que nos faz respirar e ao mesmo tempo nos angustia, como disse Sartre. Liberdade ainda que tardia como diz a bandeira. Joga fora, pro mundo, tua vida cheia de medos, dá um impulso na tua vontade, pesca seus desejos lá no fundo e transborda isso através de palavras e atos. Muitos não serão de acordo com os pensamentos. O homem não é uma máquina programada para executar tarefas. Somos seres instáveis, precisamos vez em quando desligar, caminhar, ir para outros lugares, pensar em coisas não necessariamente objetivas como pagar a conta de telefone. Faz bem exercer a liberdade a partir de dentro de si mesmo e se projetar para o mundo com uma atitude reflexiva, procurando compreender o que é o espaço, o tempo, suas relações e seis recortes. No final de tudo seremos a mesma coisa, pó. Iremos pra não sei onde, talvez não iremos pra lugar nenhum. Mas, olha, sinceramente, isso pouco importa se você está apontando para dentro, removendo o excesso e jogando fora. Liberdade começa aí, limpando o espaço e deixando-se fluir no tempo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Certezas

Certezas, não as tenho e não gosto de contar com elas. São pássaros que voam das nossas mãos, nos deixam atônitos de tanto espanto. O Katrina devastou Nova Orleans, destruiu tudo, derrubou postes e sonhos. A água chegou na altura do nariz, prestes a afogar mais um que não esperava, mais um que se apegava às certezas.
Algumas certezas são mentiras que contamos para nós mesmos afim de acalmar nossa alma, tão atormentada pela insegurança, insegurança de nos encontrarmoas com a perda do emprego ou com uma bala perdida.
Nos enganamos e sentimos prazer com isso.
Talvez uma das poucas certezas que possam existir é saber que após a devastação de Nova Orleans, o ser humano começou a reconstruir tudo que foi perdido. Mas estariam apenas montando o frágil quebra-cabeças de novo ? Nova Orleans, vida...No fim, pode ser tudo a mesma coisa.

domingo, 17 de agosto de 2008

Na veia da alma

http://br.youtube.com/watch?v=XEonGSr6obc
Fui assistir, finalmente, Nome Próprio. Caramba, mais um filme daqueles de te arrebatar da cadeira, só que não para o mundo dos sonhos e das possibilidades, mas para dentro de nós mesmos.

Camila, personagem muito, muito, mas muito bem feita por Leandra Leal é uma pessoa em constante inquietude, como a maioria de nós. Só que tem uma diferença, ela dá a cara ao mundo pra ele bater, não fica se escondendo atrás de medos, não recua diante dos riscos e experimenta o mundo sem amarras, como as caravelas que cruzavam o atlântico no século XVI, indo para um lugar desejado porém sem saber direito para onde, o que e quem encontrar.

A personagem é como nós, está estampado, na cara, ela nos mostra como somos, seres que a todo tempo tem a possibilidade de descobrir, de se descobrir mais, de invadir o território das dúvidas, de se confrontar com as angústias, coisa que poucos fazem, preferindo caminhos com respostas mais fáceis. As palavras saem como um vômito dos dedos da personagem para o computador. Ela escreve o livro tirado de sua alma e como todo escritor, dizem, sofre.

Saí do cinema e as palavras vieram atrás de mim, me perseguindo. O quanto de poder elas possuem. Imagine então um texto repleto delas, ainda mais se vier de dentro como um vulcão, sem amarras, sem receios. A palavra tem a força de expressar um pouco de nós e a resistência de permanecer através do tempo. A palavra é a identidade do ser.