quarta-feira, 30 de julho de 2008

Uma droga de uma caixa de plástico

Depois da morte do meu tio, quando assistí a exumação de um outro ente querido e vi que os ossos de meus familiares terminam dentro uma mísera caixa de plástico, repensei a vida. Parei de ficar me preocupando com pequenas coisas e estou começando a focar em pensamentos mais objetivos. A náusea parece que fica um pouco sem sentido de existir. Continua existindo, porém sem solidez. Vamos todos para lá, para a caixa de plástico, portanto, penso que devemos viver nosso dia-a-dia com mais esperança, menos preocupação com coisas banais, a não ser que seja para desbanalizar o banal.

O fato dos bichos devorarem nosso corpo não justifica que tenhamos que abrir mão de tudo, mas podemos começar a fazer as coisas, a dar nossos passos, de forma menos insegura. Por que ficar se preocupando se os outros vão se chatear com você ? Por que ficar pensando se tal coisa não vai dar certo ? Pelo menos devemos tentar. Tentar transpassar as barreiras das nossas inseguranças. No final seremos osso, poeira e plástico e ninguém mais se lembrará da gente.

Estamos indo, junto a nossa doentia sociedade, em franco rumo ao nada. Se você consegue se desvencilhar da bala perdida pode vir um tumor e te esfacelar por dentro. Já era você. Por isso devemos ser mais objetivos, pé no chão, e quando aquela angústia aparecer pense na caixa de plástico com os ossos, pois ali não tem jeito. Sendo seguro ou inseguro, homem ou mulher, rico ou pobre, vamos todos terminar numa droga de uma caixa de plástico.

sábado, 19 de julho de 2008

Só toca João Gilberto no meu mp3 player

Sutil, delicado, suave, ao mesmo tempo poético, rústico em sua batida de violão, brasileiro, caramba, poético, não é apenas isso, é muito, é altamente poético, extremamente poético, intimista, vai na veia da alma a música de João Gilberto, arrebata tudo o que há de angustiante no ser, retira da alma a dor e o peso da existência.

Reformula o cosmos e ajusta o mundo, arruma a desordem da mente, dá esperança. Fala do amor de forma particular, bela e profunda.

Agora, depois de 33 anos, parei para ouvir João Gilberto, que já havia passado por mim nos anos 90, quando conheci a bossa nova nas aulas de violão aqui na Ilha, mas desfrutar e mergulhar neste universo mesmo, só agora. O bom é que ainda tenho bastante tempo para desfrutar. Nada está perdido.
A música de João Gilberto te carrega para outra dimensão, faz o mundo se abrir e as paisagens da minha infância passam a ter um sentido a mais. Não é Ipanema, mas isso não tem a menor importância. Essa música cabe em qualquer lugar, inclusive no subúrbio, afinal de contas, ela é samba também, samba com arranjos de jazz, uma batida suave e uma voz intimista que transvasa a alma, fazendo sair tudo que há de ruim na mente humana, as fraquezas, a desesperança, os rancores, todos somem imediatamente no compasso da batida do violão.
Esta música está pra lá de muito além do que seja algo que se possa fechar no tempo e no espaço. Está aí no mundo eternizando momentos, cada batida, cada divisão, cada acorde se perpetuam no tempo, permanecendo no sempre e na eternidade.
Viva João Gilberto.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Sangue, sangue, sangue...

Um absurdo total, um cataclismo sem fim o problema da violência no Rio de Janeiro. Ontem dois PMs foram assassinados (fuzilados) em meio à guerra urbana que vivemos. Logo na Zona Sul, na Lagoa, bairro nobre. É, não há lugar para acontecer massacres. O sangue não derrama somente em Belford Roxo, Turiaçu e recantos da Baixada. A bandidagem quer armas e elas estão por aí, de graça, é só pegar e matar, nas mãos dos despreparados policiais militares.

O que mais me chamou atenção foi a declaração do nosso querido governador Sergio Cabral Filho e sua política do fuzilamento. Ele estimula cada vez mais o combate, mas, por outro lado, não oferece condições para a Polícia Militar trabalhar de forma digna, com tecnologia, estratégia e, principalmente, preparação. É só ir as ruas que qualquer um presencia policiais trabalhando em regime blasé. Estão ali trabalhando, porém passam uma imagem de insegurança, tanto para eles próprios, que podem não voltar pra casa no final do dia, quanto para a população, presa fácil nas mãos dos corruptos que usam sua autoridade para achacar civis com o famoso “molhar a mão do guarda”.

Porém, esse caminho pelo qual ruma a política de segurança no nosso estado demonstra que, na verdade, ao fazer declarações visando o combate pelo combate como forma de resolver o problema do tráfico de drogas, o governo do estado demonstra que chegou ao estágio do “não sei mais o que fazer, esta é a única solução que posso oferecer”, visto que estratégia de combate às mazelas sociais, à corrupção dos políticos envolvidos com o tráfico, vereadores e deputados controlando milícias, enfim, tentar limpar a sujeira pela base, isto não é feito. Não que fosse a solução, longe de mim, mas creio que seria um começo.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Dor.

O Fluminense nunca se importou, aliás, nós, torcedores, nunca ligamos muito para o fato do time não ter conquistado uma Libertadores. Acostumamo-nos, e assim foi desde pequeno, a torcer nacionalmente apenas. Nos contentamos com cariocas, brasileiros e copas do Brasil. Flamengo e Vasco, clubes rivais, já haviam conquistado o título mais importante da América. Nós não, mas não sofríamos por isso. Íamos aos jogos como se o Fluminense fosse o melhor de todos, independente de não termos títulos tão importantes como os rivais.

Mas, chegou a hora. A hora em que o Fluminense disputou a Libertadores, foi passando jogo a jogo, fase a fase, minuto a minuto, nos emocionando, nos deixando orgulhosos, nos motivando e nos fazendo, com a máxima razão, acreditar que este ano seria o ano de uma conquista inédita. A tão cobiçada Libertadores, título desejado por mais de mil clubes em todo continente americano.

Era o momento da redenção. O momento em que íamos enterrar de uma vez por todas todos os fantasmas de uma passado sofrido e recente. Humilhações que mancharam a nossa história foram afogadas por uma ascenção incrível. Campeão carioca em 2005, chegando todo ano às semi-finais da Copa do Brasil e por fim conquistando-a em 2007, ficando entre os primeiros no tão difícil campeonato brasileiro. Pois é, o Fluminense nos fez acreditar novamente que o pior já havia passado, que a era das derrotas tinha acabado, que o estigma de time que faz gol e recua havia por fim terminado, que o fantasma dos anos em jejum de títulos havia finalmente sido extinto.

Ontem, no Maracanã, eu vi o Fluminense, o mesmo Fluminense que vi jogar enquanto crescia. Um time que tinha tudo, tudo para vencer e se sagrar campeão, recuar quando deveria partir para cima em busca de mais um gol, apenas um gol, que nos daria o inédito título. Que nos tiraria todas os traumas, todas as amarguras que vivo desde que me entendo como tricolor. Quando entrei no Maracanã no dia 02/07/2008 esperava ver um grande triunfo que encheria de brilho uma história tão grandiosa. Iríamos, faríamos, seríamos...mas...a dura realidade voltou. E voltou voraz, como num corte seco e profundo na garganta. Acordei de uma noite que não dormi. Uma noite que começou com gritos, alegria, fé, união e terminou no último pênalti batido. Acabou. A triste caminhada da arquibancada até o carro foi penosa. Parecia que estava numa espécie de limbo pós-morte. A multidão que caminhava curvada pelo Maracanã parecia um cortejo fúnebre. Uns nem conseguiram sair da arquibancada. Lágrimas nos olhos, olhavam para o nada tentando entender o inexplicável. Crianças choravam e homens desesperavam. Na dura caminhada ao redor do estádio parecia que estava andando em direção ao nada. A sensação era de ter sido engolido por um leão. Minha alma se desfazia sendo digerida pelo incompreensível.

A dor, a tristeza, a decepção são pequenas diante do fato de ter que enfrentar, no dia seguinte, a nossa dura realidade ao constatar que voltamos a nossa terrível vidinha.