sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Atrás do sol

corria atrás do sol, a menina corria atrás do sol
se pondo atrás dos prédios do centro do Rio de Janeiro
ela corria, corria, corria atrás do sol

corria sem parar, buscava o melhor ângulo
corria mesmo...atrás do sol
pouco tempo tinha 
por isso corria
ninã loira leve santa
que corria atrás do sol

sol teimoso, tramava desnascer
em breves minutos, a cada passo
ia embora aquele sol

nem tudo que ali tinha, mar, gente, areia fria
me distraiu de ver a menina que corria atrás do sol
numa busca incessante a menina não parava
pois corria e corria
e corria atrás do sol

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Comportamentos

"O que torna uma pessoa melhor é o seu comportamento", li essa frase nas redes sociais. Será ? Segundo essa premissa todos nós somos alunos em uma grande sala de aula e, dependendo, do nosso comportamento, perderemos ponto na média. Sim, o outro, além de ser o outro, é um outro que julga, ou seja, está sempre pronto a disparar um juízo de valor contra você. O pior é que o juízo de valor que o outro impõe sobre você é algo que ele incorpora de fora para dentro, como se fosse um juiz-robô repetidor de regras morais sem questioná-las. Vejo todo dia isso nas redes sociais e sou, inclusive, alvo desses juízos, porém, ligo o "foda-se" e sigo minha vida tranquilamente, afinal, como dizem, ninguém paga as minhas contas e tampouco carregam minha cruz, como diz o linguajar cristão. 

A frase citada acima mostra muito bem o que é a nossa sociedade hoje, uma sociedade baseada na análise comportamental, como se fôssemos ratos em laboratório onde os cientistas retirariam informações, experimentos e conclusões a respeito das diversas formas de agirmos no mundo e redes sociais como o facebook são os meios pelos quais esses juízos são feitos. O mais incômodo disso tudo é que por trás dessa análise de comportamento existe um juízo de valor moral onde as pessoas julgam as outras indiscriminadamente, muitas vezes sem conhecê-las e entender as formas desse indivíduo enxergar o mundo.

Há um padrão de comportamento imposto, isto é indiscutível, e se a pessoa não estiver dentro desse perfil ela é simplesmente posta para escanteio, isolada, como se tivesse infectada por um vírus altamente contagioso. É claro que para a sociedade existir e funcionar é necessário uma série de regras, o problema é quando há o exagero em querer determinar para o outro um padrão de comportamento. Muitos problemas entre pais e filhos surgem daí. 

A questão que me faço é a seguinte, por conta do meu comportamento eu serei melhor em que ? Eles dirão : "você será uma pessoa melhor". Mas como assim uma pessoa melhor ? Volto a perguntar, melhor em que ? O que é ser uma pessoa melhor ? Este é o ponto principal. O problema de se padronizar um comportamento ideal é que o que é melhor para um pode não ser para o outro e vice-versa. Apenas cada um pode ter a sabedoria de escolher o que é melhor para si. O problema é que muitas vezes as pessoas apenas seguem as referências dos valores morais impostos sem questioná-los e, desapercebidos, incorporam estas "leis'  como sendo aquilo que elas acham que é melhor para elas, defendendo-as com unhas e dentes e o pior, dependendo do jogo de forças, impõem isso a você.

Estou querendo dizer que antes de um determinado comportamento é preciso fazer uma filtragem para verificar se realmente aquela ideia que move aquele agir é algo que brota de dentro para fora ou vem de fora para dentro, correndo o risco de sermos apenas ovelhas que obedecem o caminho do rebanho.

Existe uma coisa fundamental que é a individualidade de cada um, cabendo a pessoa saber o que é ou não melhor para ela. Em uma determinada cultura o que é melhor para uma pessoa é, em outra , considerado ruim, portanto, é preciso relativizar a questão de que um determinado comportamento vai proporcionar a uma pessoa ser melhor. Precisamos nos libertar deste pensamento que não leva em consideração as diversas formas de se ver o mundo, não leva em conta a alteridade, além das múltiplas culturas existentes no planeta Terra, bem como suas múltiplas formas de enxergar a realidade.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Bozo

O menino se aproximou do caixão, entremeado por parentes e amigos do defunto, olhou fixamente para o morto e percebeu que ele vestia um terno preto, com gravata e colarinho. De repente um rapaz, aparentando ter uns 40 anos, se aproximou do garoto e disse :
- Ele viu o Bozo.

O menino saiu e se dirigiu para outro velório, eram vários acontecendo ao mesmo tempo em São Francisco Xavier. Dessa vez era uma senhora, cabelos brancos, vestido vermelho, família aparentemente simples, caixão de madeira prensada, nada de mogno, ela usava um colar de pérolas. Era bijuteria, claro, mas talvez o vestido vermelho e o colar fossem o que de mais nobre essa pessoa tivera em toda sua vida. Uma senhora loira, aparentando uns 58 anos, de blusa azul, se aproximou e disse :
- Ela viu o Bozo.

O menino se retirou discretamente, sem falar nada, e adentrou outro velório, dessa vez no segundo andar, ficou espantado pois o caixão era branco e dentro dele havia uma criança, uma menina, linda, fizeram trancinhas nela. Parecia que dormia um sono profundo e que logo iria acordar. Um senhor, já de idade, aparentando uns 75 anos, se aproximou do menino e falou sorrateiramente em seu ouvido:
- Ela não viu o Bozo.

O menino rapidamente saiu, ainda com a imagem da doce menina na cabeça e se dirigiu a outro velório, dessa vez...dessa vez....bem, dessa vez foi diferente. Ao olhar para o morto, as luzes brancas acesas, as pessoas ao redor do caixão, crianças, tios, primas, avô, avó, todos estavam ali, seus familiares, seus pais inclusive. Quando olhou para o caixão se estarreceu, não podia ser, ele estava apenas passeando pelos velórios, mas era, o inacreditável aconteceu, era ele, o morto era ele, o próprio menino, que no instante em que percebeu se transfigurou em desespero, começou a gritar, chorar e chamar pelos seus. Veio do fundo da sala um senhor de barba branca, terno preto, se agachou, olhou no fundo dos olhos do menino nos e disse : 
- Você não viu o Bozo, eu vi.


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

da felicidade subtrai-se a tristeza

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Necessários

Necessidade todo mundo tem
de comer, amar, viver, ser livre
de encontrar os amigos do colegial
de sobreviver diante das neuras familiares
de compreender que a vida é finita e a morte é o destino de todos
de fumar, beber e abrir a janela da sala nos dias de sol
de se deslocar de um lugar para o outro, seja de barco, ônibus, carro ou avião
de brincar como se a infância nunca fosse acabar 
de abrir emails
de entender as coisas como elas realmente são
de aceitar a contingencia da vida
de falar mal dos outros
de deitar numa cama quente
mas tem uma coisa que a necessidade não tem necessidade
de ser igual para todos

Nem todas as necessidades acima são, necessariamente, minhas ou suas
mas a cada um cabe saber o que é necessário para si mesmo e é a partir desse encontro com o necessário que podemos nos compreender melhor,
pois saberemos o que desejamos, logo, chegar perto de saber quem somos, o que somos ou até onde poderemos ir.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Terapias

Escrevo para exorcizar o que há de inacessível ao meu consciente,
deixo fluir a energia acumulada mas nem sempre obtenho bons resultados, não sou uma máquina de fazer café pré-programada mas quando dá certo
o resultado é como sair de uma academia em um bom dia de exercícios,
fico mais leve e bem-humorado.

Todos temos que desenvolver nossas formas de terapia, visto que a dita em questão é muito inacessível pelos altos preços. Dizia minha antiga terapeuta, "venha três vezes por semana" e eu pensava "vou pedir concordata a cada consulta". É complicado fazer terapia sozinho mas não impossível, basta ter criatividade e boa vontade. Um conhecido meu faz tera pia, ou seja, ao lavar a louça ele relaxa,outros, além de exercício, jogam a carga sobre a arte e obtém boas respostas. Uma conhecida faz mandalas, creio que as faz para não pirar e as faz muito bem.

Eu acho que cotidiano é isso, são pequenos movimentos, curvas, desvios, erros e acertos para mantermos nossa sanidade, ao menos a sanidade esperada para conviver em família ou, dependendo do dia, em sociedade.

É tudo uma questão de jogo de cintura, cansou, descansa, transou, relaxa, se estressou, respira fundo. Não temos uma noção exata do que acontece dentro do nosso corpo mas podemos desenvolver técnicas para nos mantermos vivos por algum tempo, o tempo que der, nem mais nem menos, o que der.

sábado, 9 de agosto de 2014

Pais

- eu tive meu pai, conheci meu pai mas ele nunca dizia que me amava, nunca me fez um carinho, sempre foi distante, parecia aquela figura embaçada de tão longe que ficava de mim.

- eu conheci meu pai mas foi por pouco tempo, logo ele se separou da minha mãe e foi lá para os lados de Caxias, nunca mais o vi, dizem que morreu de tanto beber.

- meu pai era uma pessoa muito formal, rígida, mas sabia como definir as coisas em casa, mamãe ficava feliz quando ele chegava do trabalho e nós o rodeávamos pois sempre nos trazia balas e doces.

- meu pai fazia tudo em casa, consertava o que quebrava, mexia com madeira, uma vez ele construiu uma casa de bonecas para a minha irmã, foi lindo.

- meu pai vinha as vezes nos visitar, mamãe sempre botava a toalha mais bonita sobre a mesa, fazia café com bolachas, ele lanchava, passava a mão sobre nossas cabeças e dizia : "como cresceram".

- meu pai só vivia para escrever, ficava naquela casinha nos fundos, não desgrudava daquela bendita máquina de escrever, eu só ouvia o barulho (tec tec tec), as vezes  gritava pra mamãe : "Marta, traga mais papel"

- meu pai dormia sempre no sofá, lembro que quando acordava o via jogado, com o terno amassado, mamãe não deixava ele pisar no quarto por nada, dizia que ele fedia a álcool e que se não largasse a tal vida boêmia ela iria conosco para a casa da vovó.

- lá em casa meu pai dizia : "se querem alguma coisa na vida, vão estudar, caso não queiram estudar, vão trabalhar, não quero filho vagabundo dentro de casa, anda, anda, decidam suas vidas"

- papai era uma pessoa magnífica, sabia exatamente o que fazer na hora certa, nos protegia e dizia baixinho no ouvido de cada um de nós : "te amo, mas não conta pra ninguém"

- eu quase não via meu pai, ele acordava muito cedo e chegava muito tarde, mamãe dizia que ele tinha dois empregos, uma vez mamãe voltou chorando pra casa e se jogou no sofá, fomos acudi-la, uma vizinha nossa também veio, disse para ficarmos no quarto, espiamos de longe as duas conversarem até que percebemos que papai tinha uma outra esposa e mamãe acabara de descobrir, parece que tinha outros filhos também, nossos irmãos por parte de pai.

- aos domingos papai cozinhava e tomava sua cerveja bem gelada, fazia malabarismos com tomate e pimentão, depois do almoço dormia, acordava, tomava um café e ia assistir o jogo do América no Maracanã, ia de trem, como era feliz o meu pai.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Saquinhos

- Bacana esse saquinho de lixo de carro. Onde comprou ?
- Não comprei, fiz. 
- Que máximo, não sabia dessa sua habilidade. Nunca imaginei que se pudesse fazer artesanato com saquinho de lixo de carro. Ficou muito legal.
- Pois é, eu fiz um para experimentar e ficou legal, daí as pessoas começaram a perguntar, que nem você, e eu resolvi fazer pra vender.
- Legal a sua ideia. Já vendeu muito ?
- Alguns
- Tem que abrir uma fábrica de saquinhos de lixo de carro. No meu carro tenho que ficar catando toda hora senão vira um lixão de papéis de bombom, latas de refrigerante, etc
- Pois é, por isso os saquinhos de lixo de carro são eficientes, não deixam o lixo acumular, é só você esvaziar numa lixeira qualquer.
- Estamos indo pra onde ?
- Não sei, pegar um sol, sair um pouco de casa.
- É bom.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Convivências

O casamento é a arte da convivência. Não existe mais ou menos casado, está casado, está casado e pronto. Para além das origens do casamento, quero falar do espectro mais interessante desta experiência, o convívio. Convívio esse que podemos até, de uma situação particular, generalizar, com cuidado, claro, até chegarmos a algumas conclusões ou dúvidas finais.

A convivência é uma arte. Conviver com o outro implica em uma série de regras ou não. Depende muito da pessoa e do seu temperamento. Alguns descartam a convivência de forma brusca e passional, outros são mais tolerantes. Eu, mesmo que me sinta incomodado com o outro, de certa forma, procuro ficar e tentar entender, até com certa profundidade, se possível, quem é esse outro, o que deseja esse outro e qual o sentido dele na minha vida, enfim, não são regras a serem aplicadas para todos pois ninguém é igual a ninguém mas são formas de viver experiências e se sentir parte dessa experiência como um ser que a movimenta e a realiza. 

Conviver demais as vezes é um crime para a sanidade das pessoas, conviver na medida exata da capacidade de cada um talvez seja a melhor forma de não se sentir oprimido pelo outro. Tudo o que gira em torno da relação pode ou não estar no controle, depende muito da generosidade do ser, generosidade no sentido não de abdicar de si em prol do outro mas compreendê-lo como um ser que, como você, erra e acerta ou ao menos tenta sempre acertar, isso para mim seria a generosidade na relação, no convívio, o "tentar acertar".

Qual a dose certa de energia que devemos dispender em função do outro ?
A resposta dessa pergunta se refere diretamente ao quanto de desejo você tem em querer o outro perto de você. Pode-se ir até um limite onde não seja mais possível voltar, por isso temos que ter, nas nossas relações, um sentido de auto-preservação, mesmo nas mais loucas aventuras amorosas. O custo emocional não é o problema porque sofrer todo mundo pode sofrer, a questão é saber o quanto de sofrimento você suporta.

Tudo é um pouco relativo quando falamos de convivência porque o outro traz suas convicções, seus modos de enxergar o mundo, seus valores morais e tudo isso pesa na balança da convivência. É bom lembrar que quando falo em convivência não idealizo uma perfeita harmonia. Em muitos relacionamentos as pessoas se (re)conhecem a partir de oposições e conflitos e isso nem sempre é ruim como a maioria acha. Os conflitos fazem parte da jornada e muitas vezes são eles mesmos que nos apontarão o que é melhor para cada um, mesmo que o melhor para cada um seja a ruptura definitiva da convivência.

Você já deve ter percebido que não é um assunto de terreno fácil esse que estou levantando, é algo sinuoso, volátil, relativo e questionador, portanto, ao invés de ficar divagando, prefiro trabalhar com as dúvidas pois são essas dúvidas, no meu entender, os melhores caminhos para nos levar a um equilíbrio necessário para uma convivência prazerosa entre as pessoas ou entre o casal.

Somente as pessoas podem dizer qual é o necessário de cada um. 
Qual é o seu necessário ?

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Nos vejamos


Ao assistir vídeos informando a dimensão do universo me bate aquela sensação de que não somos nada e em termos dimensionais não somos mesmo. A questão é que isso não anula o fato das pessoas se sentirem superiores as outras, muito em conta porque na sociedade do dinheiro este pauta os valores de "estar acima" ou "abaixo" de.

A sociedade do dinheiro é um modo de se entender a forma pela qual as pessoas assimilam a moral do dinheiro e as aplicam na sua forma de observar o mundo, analisar as pessoas e se enxergar.

"O modo como eu me vejo é o modo como eu vejo o modo como você me vê"
Goffman.

Não nos vemos como realmente somos, nos vemos como o outro nos ve, ou seja, a noção real de quem eu sou para mim é pautada pela forma como eu entendo o jeito que o outro me vê. Portanto, eu não me vejo como realmente sou, de dentro pra fora, eu me vejo como o outro me vê, de fora pra dentro. Isso leva a uma crise. Crise no sentido de se questionar, então,
quem eu sou ?

"Eu sou um projeto. o homem está condenado a ser livre" Sartre

Eu mesmo crio, a partir das minhas escolhas, o que eu serei e não tenho como fugir dessa liberdade pois sou isso já que primeiro eu existo, depois crio minha essência

Estamos preparados para nos enxergarmos como realmente somos e a partir disso fazermos escolhas sem muita angústia, porque em zilhões de possibilidades o homem se angustia.

Estamos preparados para nos enfrentar ?

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Mudanças (continuação)

mudança é um transtorno
caixas e mais caixas cheias de trecos
ninguém usa
televisões pesadas
roupas enroladas
e lá vamos nós
não aguento mais mudar
durante 30 anos morei na mesma casa
em 5 anos fiz mais de 6 mudanças
é muito atordoante pra mim
minha cabeça pira, eu fico descoordenado
não quero caixas, não quero bagulhos
não quero caminhões
só quero ficar em casa
em paz, só isso, sem ninguém me incomodar
lendo meus livros, vendo meus filmes
me aquecendo nos pés quentinhos da minha amada
com chuva, então, mudança é uma loucura
pés molhados, ai meu Deus

domingo, 3 de agosto de 2014

Janela


perfeitamente inserida na parede
não foi feita pra parede
a parede foi feita pra ela
já existia antes da casa
mas não foi feita pra esta casa
já era de outra
imagino quantas vezes foi aberta
imagino quanto de sol deixou entrar
imagino quantas manhãs viveu 
não sabemos quem a abria
mas gosto de pensar que era com alegria
a alegria de iniciar mais um dia
mas, como tudo nesta vida acaba
o tempo dessa casa acabou
a janela seria fechada para sempre ?
não, antes de ser demolida
alguém foi lá, a comprou e trouxe pra cá
pôde ela, assim, manter sua função
ser aberta toda manhã para começar 
um novo dia para alguém
até fechada tem sua função
proteção, altivez, penumbra
dizem que é francesa
é madeira da boa
será pau-brasil ? não sei
sei que é linda, imponente e necessária




sábado, 2 de agosto de 2014

Presos

- prenderam a garotada
- por que ? estavam roubando pão ?
- não, estavam apenas se manifestando
- quem mandou ?
- quem mandou o que ?
- quem mandou se manifestar...
- ué, não pode ?
- não
- o Estado os prendeu por se manifestarem
- tem que prender
- é ditadura ? estamos numa
democracia, cara
- é mas tem que prender esse vândalos
tinham coquetéis molotov
e aquele vídeo da Sininho
ih, parece até que voltamos 
a 30 anos atrás, daqui a pouco
peço anistia
- por mim deixava tudo lá em Bangu
apodrecendo
- por se manifestarem ?
- sim
- não pode ?
- não, não pode
- acho que você está vendo
muito RJTV
- adoro
- azar o seu 

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Inversões

acordei, foi um espanto
vi pela janela o centro do Rio coberto por uma névoa cinza
que porra é essa ?
inversão térmica, ah, inversão
a pureza dos poluentes parados
na camada mais baixa da atmosfera
coisa do inverno, coisas de livro didático
com muito frio a poeira num sobe, abaixa 
nossa, parece até aula
não, sabe porque ?
Porque a gente vê isso o tempo todo
em sala de aula, é inversão pra lá
inversão pra cá mas num se vê ao vivo, como deveria ser
tinha que bater uma foto
foi lindo, apesar de perigoso
enfim, poluição por poluição dizem
que uma caminhada pela grande cidade
equivale a cinquenta cigarros
então, meu amigo, aí cê sabe como é
num adianta chorar 
melhor comprar um inalador porque a coisa tá feia
na China, ih, na China cê tem que andar de máscara
pega o esgoto do ar e joga no mar
será que a Guanabara nos salva ?
tá sujo ? joga pra Guanabara, essa é a máxima aqui
mas com ar a coisa é diferente