quinta-feira, 23 de abril de 2009

Músicas de minha vida

Ouço uma toada
Ela me situa no tempo
Revela
meu presente premido de sons
No futuro
tudo será lembranças
melodias pausadas de uma época
recordações do hoje vivido
As músicas de minha vida
ressuscitam pessoas
amantes intangíveis
amigos distantes
amores perdidos
todos tragados pelo mundo
transmutados em canções
residem
no fulgor dos acordes
no grito de um refrão
até alcançar meu fenecer
lá permanecerão
capturados
para deleite
nas músicas de minha vida

Feriados

As pessoas e seus apartamentos sem barulhos
Da minha janela olho pra longe
e entre prédios contemplo um comovente silêncio
Todos dormem ?
Se não estão em paz com seus filhos
Almas apaziguadas
sem a loucura dos dias comuns
Os carros não passando
deixam um rastro de puro sossego
No ar o canto livre e fulgente dos pássaros
preenche calçadas vazias de homens
A luz do sol nesses dias é mais bela
O céu, mais azul
Queria mais tarde
morar em lugar distante dos ruídos urbanos
Só pra acordar
e sentir como se todo dia fosse de paz
doce imobilidade do mundo

Em feriados
me agride o dia acontecer lá fora
quando capitães põem gente pra trabalhar

sábado, 11 de abril de 2009

Meus balões

Sete da manhã
Acordo com salvas de fogos
Alertam para um dia de venturas
Domingo de Junho
Na varanda uma brisa esperança
Árvores de verde verdade tocadas por raios de sol
Prédios em concreto amoleciam as estruturas
A rua sem saída era fronteira do mundo

O céu claro azul salpicado por balões
Alavancava em mim desejos de voar como eles
Por trajetórias curtas e intensas
Tal qual o fogo das buchas a queimar

Ao olhar com o binóculo do meu avô
Avistava o mundo dos sonhos
Os via com detalhes
Carregavam imagens sacras coladas no firmamento
Obras de arte dos subúrbios

Hoje do mesmo lugar não há mais binóculos
Nem mesmo a sabedoria do meu avô
O azul insiste em ser azul porém a brisa agora é fria
Tanto céu para um só balão
Balão despertador a me alertar de tanta vida ainda por vir
Mas tão pouco sonho a se viver

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Persista

Em casa ouço trovões
O tempo me surpreende, eu gosto
Da varanda avistei tempestade
Lentamente chegando
Cheiro de terra no ar

Estrondo gigante arrebata meu corpo pra fora de casa
Sinto o frescor da baia nos degraus da Guanabara

Persista, sou alma destemida criada pro mundo
Sorrio o tanto que já chorei
Enlevo meu corpo suado em pingos d’água
Tristezas escorrem pelo chão

Cansei
Quantas vezes tive que calar pra não ser aviltada ?
Hoje sou apenas eu

No canto liberto minha verdade sem freios
Retiro palavras da alma, as jogo pra cima
Encontro o verbo sonhar
De vestido rodado
Pé descompassado
Meio embriagado

Ele me convida
Pra dançar a vida