segunda-feira, 9 de junho de 2008

O sangue que pinga da tela cai na nossa incapacidade de agir





Acabei de assistir um filme...no Canal Brasil. Um filme que estava afim de ver há muito tempo. Já tinha começado a assistir uma vez, já tinha lido sobre ele mas nunca tinha tido a oportunidade de parar com calma pra ver.

O Bandido da Luz Vermelha. Esse filme me vez lembrar automaticamente de várias coisas. Olha, ele é de 1968. Putz, caramba !!! Como é que um filme do final dos anos 60 pode ser tão atual ? Ou será que é o tempo que não caminhou ?

Me lembrei das várias ditaduras vividas hoje em dia, principalmente a do “politicamente correto”, que detesto. O filme é o inverso disso. Ele agride, ele transgride na imagem, nos recortes, no ritmo, nos diálogos. Ele é sarcástico, questionador...

Quando eu vejo algo assim, imerso em que estou nessa pasmaceira da velocidade, do colorido e das imagens bonitinhas, principalmente na TV, fico estarrecido de euforia, de encanto. Poxa, é o inverso quase que todo o inverso do que a gente vê por aí. A televisão e as propagandas que transformam o sanduíche pequeno em comida colorida, vistosa e suculenta.

Mas o politicamente correto...caramba, como é bom ver algo politicamente incorreto na TV. É uma aberração tão grande que até ouvi o barulho de uma onda vindo em direção a minha casa. Parecia que o mar da Praia do Chiclete tinha se transformado em tsunami.

Vivemos um ditadura hoje, assim como no período em que se passa o filme, só que hoje é a ditadura do faça tudo bonitinho, certinho, ande arrumadinho, com o cabelo limpinho e seja bonzinho. Até o bossal dos mais bossais percebe que se propaga uma imagem, um modelo de comportamento mas na verdade o que acontece nos círculos do poder, no submundo da hipocrisia, é justamente o contrário. É sujo, é tosco, é podre. E assim é o Bandido da Luz Vermelha. O herói de uma sociedade sem cura, sem destino, onde o sangue que jorra das suas vítimas soa como um clamor de misericórdia. Hei, alguém !!! Olhai por nós !!! A gota do sangue de suas vítimas cai em cima da nossa incapacidade de agir, atônitos, neuróticos e paralisados pelas luzes que estamos.

Esse filme deveria passar em cada praça, cada esquina, cada rua do Brasil. Esse filme é pra gente se ver. Somos carne e sangue. Somos produto de uma neurose metropolitana pós-alguma coisa recortada e desprovida de profundidade e amor. O mundo está assim e já estava assim há 30 anos atrás. Então, quando eu nasci já havia tudo isso e o que a gente tem hoje é aquele tudo isso com revestimento de tecnologia, informação e sofisticação.

É isso, o amor. Encontramos no não-amor desse filme a esperança da redenção dos nossos pecados.

Saravá.

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