sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Deixa a vida me levar ? Não !!! Sou eu que levo a minha vida...

Estive lendo por estes dias um livro chamado “Montanha Russa”, da Martha Medeiros. É um livro de crônicas. Uma coletânea, melhor dizendo, tais como as de música reunindo as "melhores" do seu artista preferido. Aliás, comprar um livro é uma coisa extremamente estranha. A gente, por mais que já tenha lido a orelha mil vezes em pé na loja e conhecido a crítica do jornal (confesso que não ligo muito para crítica de jornal mas até que leio), nunca sabemos exatamente o que aquele autor nos oferecerá. Mas tudo bem, comprei o livro no impulso da curiosidade. É uma autora a qual leio há um certo tempo em um jornal carioca todos os domingos. Sim, de certa forma o texto dela me chama a atenção em alguns aspectos. Daí o voto de confiança.
Pois bem, são crônicas e como toda crônica ela é rápida e procura ser certeira, bem-humorada ou não, abordando temas cotidianos. O livro é uma montanha russa de temas como comportamento, ética, psicologia, arte e por aí vai. É impressionante como estas coisas estão tão inseridas no nosso dia-a-dia que só nos damos conta mesmo quando alguém pára para escrever sobre elas. Uma das idéias que mais me chamaram a atenção ao longo do livro foi o fato da autora aceitar suas contradições, seus medos, seus erros e suas neuras, não deixando de falar sobre o que ela considera como suas virtudes. Achei sincero isso, ou seja, ela vai na contramão dos livros de auto-ajuda os quais só sabem dizer que o mundo pode ser maravilhoso bastando você querer, seja através do pensamento positivo, seja através dos dez métodos infalíveis para se viver melhor, passar em uma entrevista de emprego ou ser bem sucedido na vida. Mas o que é ser bem sucedido na vida ? O que é a vida ? . Não é tão símples assim quanto esse livro o qual dá seu recado sem maquiagens. Gosto disso. Penso que somos muito do que está escrito neste livro. Não por ter me identificado com assuntos cotidianos mas por ter entrado em, vamos dizer, uma certa sintonia "astral" com a autora. Tirando algumas crônicas que não me chamaram muito a atenção e, em vista disso, não as lia novamente, o livro confirmou a expectativa vivida na loja. Ele acrescentou. Me fez refletir.

Não precisamos estar bem todo dia para o mundo e para as pessoas oferecndo sorrisos falsos. Tem dias que não estamos bem, estamos angustiados, não dormimos bem, nos chatearam, a comida queimou, a conta atrasou e nem por isso estamos em depressão (Os psiquiatras diriam : "Você está se sentindo assim ? Tome aqui esse remedinho. ). Não !!! A existência humana é angustiante e contraditória em si mesma. Não adianta a gente fugir para a religião, forçar a barra para mostrar que é forte e inteligente para as pessoas, se entupir de remédios, querer ser conhecedor de tudo para mostrar que é inteligente quando o legal é partir do princípio de que sabemos que nada sabemos, já dizia Sócrates. Somos símples e ponto. Acabou. Paremos de querer ser o que não somos, querer agradar e a toda hora ter que fazer os outros sorrirem. Para !!! Isso cansa a alma. Gargalhe apenas quando você realmente sentir necessidade de gargalhar. Faz tão bem gargalhar. Pelo menos pra mim.Devemos deixar os sentimentos fluirem. Angústia, expectativa, ansiedade, alegria, êxtase, satisfação, felicidade, porque não tudo junto ? Temos que parar de nos cobrarmos tanto a respeito de que devemos ter uma postura. Tenho que ser de esquerda, ver filmes e ler livros de esquerda senão meu amigo marxista vai pensar que tenho a "mente fraca" e estou descambando para o outro lado. Tenho que assistir apenas filmes de arte. Se eu assistir Homem-Aranha III estou indo a favor do sistema capitalista globalizante e excludente americano. Se eu sou professor eu tenho que ser mau. Não posso nutrir amizade pelos meus alunos e tenho que pelo menos deixar metade da turma para prova final, afinal de contas não são alunos, são apenas números e eu não me importo com eles mas a minha filha não, minha filha é um ser acima de qualquer outro ser. Muito mais humana e inteligente do que aqueles chatos que me pentelham todo dia. Ela eu trato com humanidade.

Tenho que agir de tal forma porque senão as pessoas vão me ver como fraco. Sou homem, macho e, portanto, nao tenho sentimentos, resolvo tudo. É só recorrer aqui ao papai que eu instalo o ar condicionado e ao mesmo tempo dou lições de ética, moral e bom comportamento na sociedade, além de resolver algum probleminha de grana. Depois que tiver cumprido minha "missão" familiar entro no primeiro bordel e compro um programa com cinco garotas e um travesti para realizar meus desejos mais secretos. São estes factóides que o livro derruba. Todo mundo tem seus medos, suas carências, seus desejos reprimidos mas acabam confinando tudo lá pra dentro do inconsciente. Vez em quando é bom trazer um pouco de si. Claro, como diz a Martha. Se soltarmos nossas feras internas adeus sociedade organizada. Há de se ter bom senso.Não somos nada certinhos, não somos nada regulares, temos nossas neuras, preocupações, nossas dúvidas, contradições e ambiguidades.

O ser humano é ambíguo em sí mesmo. Com que fundamento vamos ficar nos mostrando fortes quando por dentro temos diversas incertezas, muitas vezes inconscientes ? O que é a morte ? Existe outro lado ? Somos seres desejosos de respostas e ficamos buscando padrões de comportamento impostos de fora por uma moralidade hipócrita e ideologicamente usurpadora de nossas essências (chega, não quero ficar retórico).A questão é, porque omitimos para nós mesmos nossas insatisfações mais profundas ? Por que nos preocupamos com o que os outros vão pensar de nós ? Danem-se os outros. É claro, há de se ter bom senso. Não vou entrar gritando em uma Igreja e nem vou chutar o cachorro da vizinha se ele não me atacar. Não vou abrir a janela do carro para jogar a latinha de refrigerante na rua e nem sair dizendo "foda-se" para todo mundo a troco de nada. Porém, nos cobrarmos que devemos nos mostrar para os outros de uma forma "bonitinha", politicamente correta como os noticiário de TV, que nossa casa é toda "organizadinha" e que não deixamos roupa espalhada. E dane-se se vão gostar ou não de você. Sempre em qualquer grupo social vão estar falando e fazendo comentários sobre as pessoas, por menor que sejam. O ser humano sente esse prazer em falar do outro pois ao fazer isso se sente mais humano para si mesmo. Se é mesquinho ou não, problema. Há um prazer primitivo nisso.

Não deixe a vida te levar, não. É você que escolhe e leva a sua vida do jeito que quiser, estando ciente de que mudanças são normais e fazem parte dessa maravilha que é estar nesse mundo e apreciar as maravilhas da arte e o acordar da sua esposa com sua filha na barriga. As pequenas coisas são gigantescamente importantes e prazerosas. Escolha não ter amarras, escolha ler Marx e depois ir ao shopping consumir ou se divertir, escolha mudar de idéia de uma hora para a outra, escolha ouvir as pessoas no que você considera importante, jogando no lixo o que acha ser descartável. Não precisa falar isto para elas se você não quiser. Se quiser, fale e discuta.Não somos perfeitos, ainda bem que não somos perfeitos. Bendito seja nosso primitivismo. Experimentemos o prazer de podermos escolher e sermos ambíguos e contraditórios. Penso que esse livro cumpre sua missão neste sentido, de que a vida é uma doce montanha-russa e não devemos ter vergonha de embarcar nela, procurando sentir a culpa, a angústia, a alegria e a felicidade na medida certa de cada um.

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