Carta a uma grande amiga

Grande amiga, vejo sim, vejo o sol se pondo no horizonte ao som de um jazz não sincopado, cool, maneiro, sem maneiras, sol que se esconde sozinho, tão só para fazer tanto, resplandecer beleza sozinho. Isso não é coisa de Idade Média, os subterrâneos dos subterrâneos, vivemos salpicos disso hoje com Feliciano e CIA. Qualquer dia desses vou sair na rua e alguém perguntará : ei, pq vc é vc ?

Sabe, expansão da consciência é apenas uma passagem, uma onda pois não temos como chegar lá no último estágio, nem com ayahuasca, porque este último estágio não existe. Existe a performance do dia clareando, as cores surgindo no horizonte, não seja um beatnik nem um bitolado, não tinha uma música que dizia isso ?

Você ser atendido por um serviço público com educação é uma raridade, nós estamos aí, os professores, professores para quem, né ? Eu sei, eles não sabem o que está acontecendo, nem a gente sabe direito, né ? Estou vivendo uma espécie de niilismo pedagógico, o mar me diz que algo se renovará depois de toda essa depressão da Educação brasileira.

Deixei de ser vaidoso quando tirei a roupa para a minha mulher, caiu o meu primeiro naco de gordura e ela disse > te amo, sabe, estou puto com a ditadura da beleza, com a ditadura do mercado. Não pago as dívidas, fodam-se os bancos, não verão meu dinheiro, nem uma mísera moedinha rs

Gordura é o que vai pra dentro quando a gente faz alguma coisa de bom aqui no final de semana. Descobri que mesmo sem grana com 3 filhos para sustentar dá para se divertir. Um bom vinho barato, chileninho, os argentinhos, ah...os vinhos argentinos, uma boa cerveja forte, uma receita que se pega em segundos na internet e pronto, o copinho sobre a pia, o refogado despejando fumaça deliciosa na cozinha, Júpiter definitivamente não se dá bem com Saturno. Meu amor, te amo, saudade e assim que sairmos daqui de Niterói vamos montar um ap bacana para receber você e a Rita, tomarmos um bom vinho e sermos felizes.